Com quantos grãos um pão se fez?
Dez mil talvez?
Dez mil almas, dez mil calvarios e agonias
Todos os dias.
Eil-o em cima da mesa do teu lar.
Olha a mesa: um altar.
(A Oração do Pão, Guerra Junqueiro, 1902)
– Amanhãm por’a meia pode tchigar a buscar que tem-la já desfora do forno!
Dizia-me ontem a Dona Francisca à porta de casa, com o carrego da labadeira cheia da roupa à ilharga, acabada de lavar no tanque.
Aquele pão amarelo, de grossa e estaladiça côdea, quase do tamanho da roda de um carro, cozido no forno ainda com cheiros a pinheiro e mimosa, já se queda ajeitado longe do alcance dos ratos, nas prateleiras da camboeira, suspensa do tecto a um dos lados da casa do forno. Pelo ar ainda adeja o cheiro brando e doce da cozedura, envolto num espalhado véu esbranquiçado a adornar ancestrais rituais de feitura…
S. Vicente te acrescente,
S. Mamede te levede e
S. João de ti faça pão
Ámen.
Cresça o pão no forno,
Ele a crescer
E nós a comer
Reze quem puder e souber.
Hoje fui-me à broa!
Olá, Jorge Esteves
Sou de uma terra onde o milho entra em tudo. Lembro-me de uma espécie
de broa que se fazia no borralho.
O milho era amarelinho o que lhe dava uma cor convidativa.
O seu texto e a reza são deliciosos, quase como a tradição dessa broa de côdea
estaladiça.
Um Bom Ano, meu amigo.
Um abraço
Olinda
Bartolomeu Fernandes,
Pois é!, também eu não via enquanto andava pela cidade! Queres o que queres, que não é muito compatível com broa amarelinha a sair do forno…
Mas como és boa praça, sabes que é só dizeres que vens!
Um bom ano para ti também!
Abraço.
Natália Machado,
A broa amarela é de milho; o milho quer muita água… e isso é o que mais há por aqui!
É fumo derramado na casa do forno de vizinhos próximos. Pelo meio, envergonhado, o sol ensaia algumas pinceladas de luz.
Um bom e farto ano, Natália.
Abraço.
Maria Amélia,
E broa de milho, sim, que o há por essas bandas! Sempre houve bom e farto milho.
Não que eu seja trabalhador da matéria, mas esse bocado de massa, oriundo da fornada anterior, sempre passa de forno a forno, ou melhor dito, de masseira em masseira, já que tem a função de servir de fermento. Sabia?
Abraço.
Beatriz Caldeira,
Trás-os-Montes é mais agreste, pouco mimoso com o milho, daí não ser usual haver.
Compensa noutros sabores…
Abraço.
A todos bem-hajam.
Abraços
Por estes lados de Vila Real a broa é de mistura não se vê só de milho porque ele é todo para forragem e é apanhado com máquinas. Mas lembro-me dela.
Gosto de ler as suas recordações
Olá meu caro Jorge.
Em Melgaço os pais da minha mãe com oitenta anos ainda coziam a broa duas vezes por mês. Era engraçado porque lhe misturavam um bocado da massa da broa da vizinha. E bem saborosa era a broa.
Beijo
Pão amarelo, como? Se é milho nunca vi broa de milho amarelo. Por aqui em Abrantes a broa é de mistura.
É uma fotografia do cimo do monte?
Bom ano amigo Jorge.
Abraço.
Es um sortudo, mano! Aos tempos que não vejo uma assim amarelinha e quente.
Bom ano, amigão!