Com quantos grãos um pão se fez?
Dez mil talvez?
Dez mil almas, dez mil calvarios e agonias
Todos os dias.
Eil-o em cima da mesa do teu lar.
Olha a mesa: um altar.
(A Oração do Pão, Guerra Junqueiro, 1902)
– Amanhãm por’a meia pode tchigar a buscar que tem-la já desfora do forno!
Dizia-me ontem a Dona Francisca à porta de casa, com o carrego da labadeira cheia da roupa à ilharga, acabada de lavar no tanque.
Aquele pão amarelo, de grossa e estaladiça côdea, quase do tamanho da roda de um carro, cozido no forno ainda com cheiros a pinheiro e mimosa, já se queda ajeitado longe do alcance dos ratos, nas prateleiras da camboeira, suspensa do tecto a um dos lados da casa do forno. Pelo ar ainda adeja o cheiro brando e doce da cozedura, envolto num espalhado véu esbranquiçado a adornar ancestrais rituais de feitura…
S. Vicente te acrescente,
S. Mamede te levede e
S. João de ti faça pão
Ámen.
Cresça o pão no forno,
Ele a crescer
E nós a comer
Reze quem puder e souber.
Hoje fui-me à broa!